Bode Expiatório

Muitos empresários estão terminando este ano sentindo um gosto ruim na boca. O gosto do fracasso.

A economia deve encolher aproximadamente 5% neste ano, os problemas se acumulam, o cansaço e o desânimo aumentam. Enfim, a tempestade perfeita chegou ao Brasil.

Mas nestes momentos de desânimo o empreendedor encontra um consolo.

Foi a crise!

Faz sentido! Afinal por todo lado se vê a mesma coisa, obviamente não é culpa do empresário. Ele é uma vítima das circunstâncias.

Os donos e donas de academias estão se sentindo do mesmo jeito. Afinal a crise é para todos, certo?

Decidi tirar a prova e fui conversar com empresários de outros ramos.

Comecei falando que as academias estavam em crise profunda, sem dinheiro e os proprietários desanimados e sem esperança.
Um deles, muito analítico, começou a me bombardear com perguntas. Eis algumas delas:

- O setor de academias já atingiu o ponto de saturação? 
Respondi que não, apenas 4% da população estava em academias. 

- Estes Clientes estão mudando de uma academia para outra?
Respondi que a maioria deles estava apenas virando novamente sedentário. Alguns mudam de academias, mas a maioria simplesmente desiste no primeiro mês.

- As academias são muito caras para o momento da crise?
Respondi que não, que no Brasil existem academias para todos os bolsos. Respondi também que é quase impossível sair para jantar com a família e gastar menos do que um mês de academia.

Disse ainda que em muitas cidades era mais barato que parar o carro num estacionamento.

- Todo mundo está perdendo dinheiro em academias?
Respondi que não. Comentei que uma cadeia de academias prosperou na crise, aliás, arrebentou na crise. Não só conquistou o Brasil como se tornou uma multinacional brasileira.

Ela está conquistando multidões de alunos, abrindo por volta de 70 academias novas por ano.

- E as vendas, sumiram? Ninguém mais está se matriculando em academias?

Aí as coisas começaram a se tornar embaraçosas para mim. Expliquei que a maioria das academias recebe muito mais matrículas do que precisa para dobrar de tamanho todos os anos.

- Os Clientes então não querem se comprometer com as academias?
Já meio sem graça eu expliquei que muitos deixavam 12 cheques, entregavam seus números de cartões para cobrança recorrente.

Meu amigo pareceu que estava começando a ficar irritado. Achei melhor mudar de assunto e falar da nossa festa de confraternização de final de ano.

Afinal a empresa dele estava totalmente sem Clientes, seria deselegante continuar.

A conclusão da conversa foi que, no caso das academias, não está sendo possível culpar a crise pelos problemas dos empreendedores.

Vamos agora olhar para dentro de nossas academias. Conversando com dezenas de gestores de academias notei que alguns padrões se repetem com grande frequência. O maior deles eu estou chamando de Soma Zero.

A Soma Zero é a seguinte: você começa o ano com 100 Alunos ativos, recebe 100 matrículas de novos Alunos e termina o ano com 100 Alunos ativos.

Podemos estar em crise, mas definitivamente não é uma crise de vendas.

Note que até o momento não expressei minha opinião, apenas citei fatos concretos, facilmente verificáveis.

O problema das nossas academias está da porta para dentro. Que benção!!!!!

Para não ficar apenas na conversa, nós decidimos romper com a maneira tradicional de atuar nas Academias. Fizemos isso no que diz respeito ao treinamento oferecido para os novos Alunos. Mudando poucas coisas nós observamos que é possível acabar com a crise da retenção.

Os pontos chave foram:

- Sedentários tem que ser treinados de maneira especial e, preferencialmente, separadamente;

- Nossos treinamentos incluíram sempre Flexibilidade, Musculação e Cardio. Flexibilidade foi a estrela da retenção;

- O uso de tecnologia permitiu fazer isso com baixo custo e pouco investimento;

- Nossos Alunos não podem sentir dor, o treinamento tem que ser eficaz e sem sofrimento.

Começamos a falar deste assunto e, pouco a pouco, outros empresários estão adotando nossas ideias e começando a questionar as próprias certezas.

É muito mais fácil resolver nossos problemas internamente do que mudar nossos políticos, reverter a crise ou convencer investidores internacionais para que voltem a nos mandar seu dinheiro.

Dentre vários setores da economia, nós vamos virar o ano com uma enorme oportunidade.

O nosso Bode Expiatório está dentro de casa.

Prefiro isso do que achar que a solução dos nossos problemas depende de um político.

Abraços,

Fernando Teixeira

P.S. Ficou curioso para saber como mudamos o jeito de trabalhar? Venha nos visitar que te mostraremos com o maior prazer, afinal somos a única academia de código aberto do mundo.

Fernando Teixeira