Não sei, eu só trabalho aqui

Por 21 anos eu fui empresário na área de fabricação de equipamentos médicos. Nos dias de hoje isso significa que você necessariamente fez negócios com empresas chinesas.

Uma das coisas que imediatamente aparece nestas negociações é a questão do choque cultural. É impressionante a diferença na maneira de fazer as coisas entre nós e eles.

Rapidamente eu entendi que o Brasil e a China têm muitos problemas em comum. Um deles é a questão da qualificação da mão de obra das empresas.

Eu arrisco até a dizer que a China tem um problema com qualificação de mão de obra muito maior do que o Brasil. A população deles é arrancada de pequenas cidades rurais e vai trabalhar direto em megalópoles. 

Na época em que comecei a viajar para Shenzhen, uma destas megacidades, muitos chineses ficavam enjoados por andar dentro de ônibus. Sequer esta experiência de andar em veículos eles tinham.

A China teve que lidar com a educação de centenas de milhões de trabalhadores em poucas décadas. Gente que não tinha noções sobre higiene, não sabia ler ou escrever, jamais havia visto um telefone ou um computador e que foi trabalhar em indústrias.

Não houve tempo para os empresários de lá ficarem chorando e reclamando que as pessoas eram ruins. 

O empresário chinês aceitou o fato de que ao abrir uma empresa ele estava, ao mesmo tempo, abrindo uma escola para seus funcionários. Aceitou que em grande parte ele estava sozinho nesta empreitada e que o futuro da empresa dele dependia disto.

Contratamos uma pessoa que era chinesa e havia morado no Brasil por anos. E foi através dela que começamos a entender melhor o que estávamos vendo. Vou relatar apenas um aspecto do treinamento que ela recebeu ao entrar para uma fabricante de equipamentos médicos na China.

Nos primeiros 15 dias ela estudou apenas a história da empresa. Ela soube como a empresa começou, quem eram os fundadores, quais foram os primeiros produtos, sucessos, fracassos e estratégias. Enfim, ela se tornou especialista na companhia na qual estava entrando. 

Estudou fotos antigas, nomes, detalhes dos eventos comerciais e quem foram os primeiros Clientes. E, na terceira semana, fez o seu primeiro teste de qualificação.

Ela fez para todos os colegas uma apresentação detalhada da empresa!

Confesso que ao saber disso fiquei envergonhado com a maneira como fazíamos as coisas aqui no Brasil. Um detalhe é que a minha empresa era e é uma das melhores que eu já vi em fazer treinamento de suas equipes.

Agora estou empreendendo no Fitness. Tenho andado por aí e conversado com os Proprietários e suas equipes. Percebo que também nesta área as oportunidades de treinamento são enormes.

Num recente encontro o Proprietário perguntou para um dos coordenadores quantas modalidades a academia tinha. A resposta foi que haviam muitas. Percebi na hora que nenhum dos dois parecia saber a resposta exatamente.

Já perguntei para professores qual o preço da academia e quase sempre a resposta é que não sabem ao certo.

Faça você mesmo o teste. Pergunte para as suas equipes detalhes básicos do seu negócio. Comece perguntando o número do telefone da sua academia, modalidades, preços, nome das pessoas.

Espero que você perceba o tamanho da oportunidade que se abre para o nosso setor quando realmente a gente treinar nossas equipes.

Não vou nem entrar em detalhes técnicos sobre a prescrição de exercícios ou vendas. 

No Brasil a distância de nossos funcionários com as empresas é tão grande que com facilidade você irá ouvir a seguinte frase. 

Não sei, eu só trabalho aqui.

Abraços,

Fernando Teixeira

P.S. treinamento sobre o que a empresa faz é barato, rápido e faz milagres no seu relacionamento com os Clientes. Assuma que você é um educador.

Fernando Teixeira