CATRACA

Ainda ontem eu comentava com amigos que achava que as catracas haviam se tornado obsoletas como instrumento de acesso. A conversa foi interessante, com cada um argumentando sobre a utilidade ou não de tal dispositivo.

Fiquei brincando com a ideia e cheguei a uma conclusão irrefutável sobre a utilidade da catraca.

Ela é a linha divisória de dois mundos completamente diferentes. O que acontece dentro do seu empreendimento versus o que acontece fora dele.

São dois universos que operam com regras distintas e tem gestores diferentes. Vamos elaborar um pouco sobre o que acontece do lado de fora.

Imagine que você é acionista de uma gigantesca empresa, vamos chamar ela de BraCorp. Ela tem trilhões de dólares de faturamento e muitos sócios. Como se escolhe o CEO desta empresa fictícia?

Ele é eleito por uma assembléia direta de acionistas!

Ainda na minha empresa imaginária, mas muito sofisticada pelo seu porte e complexidade, imagine que os acionistas tenham eleito um CEO muito popular.

O problema é que este CEO não tinha muito estudo. Mas ele tinha sorte, era bem falante e inteligente. Como toda empresa com um CEO que não está capacitado, um dia o desempenho da BraCorp caiu.

Ao deixar o cargo muitas denúncias foram feitas sobre ele. Aparentemente ele teria usado o dinheiro dos acionistas em prol de seu próprio filho e também de amigos do Conselho Diretor.

Mas os acionistas confiavam nele!

A substituta que ele indicou ao sair não desempenhou bem e deixou a empresa em maus lençóis, fazendo com que as ações de todos os investidores despencassem.

Isso é o que acontece do lado de fora da catraca. 

Da catraca para dentro existe um outro Gestor, sua excelência o Empreendedor. É, você mesmo, o dirigente supremo da Nano, vamos chamar ela assim em homenagem ao seu tamanho.

Embora a Nano seja regulada e impactada por tudo que acontece na BraCorp, que vive inventando moda, o seu Gestor tem uma grande margem de manobra.

Só quem trabalha lá são as pessoas que o Gestor contrata, muitas regras são decididas dentro de casa e principalmente ele decide a missão do empreendimento.

Como se não bastasse a crise na BraCorp, infelizmente para o empreendimento um grave problema está ocorrendo também. O Gestor da Nano só consegue focar no que acontece na BraCorp!

Toda conversa com ele começa, evolui e termina com ele mostrando porque é impossível para a Nano melhorar em consequência dos problemas da BraCorp.

Olhando como leigo até que faz sentido! Afinal a BraCorp é tão grande que só poderemos melhorar quando ela melhorar.

O argumento começa a não parar em pé quando começamos a olhar para outros empreendimentos, tipo a Pico, a Fenta e a Micro. Todas prosperando na crise, ou melhor, prosperando com a crise !!!

A coisa complica mais ainda quando o Gestor da Nano se nega a enfrentar o que está acontecendo da catraca para dentro. Ele argumenta que é tudo em vão, pois a BraCorp não deixa ele prosperar.

Só que esqueceram de avisar a Pico, Fenta e Micro, todas indo bem e cravando suas garras nos Clientes da Nano.

E o que o Gestor da Nano sonha? Que os acionistas escolham um grande CEO para a  BraCorp. 

Mesmo estando de posse das informações que surgiram depois da saída do CEO da BraCorp, adivinha o que muitos acionistas da grande corporação querem fazer? 

Trazer de volta o CEO Sortudo! Eles não vão resolver o problema da Nano. 

Outros empreendimentos, gerenciados por gente mais inovadora, mais ágil e mais flexível, estão provando que não interessa exclusivamente a BraCorp.

O que acontece da catraca para dentro é muitas vezes mais importante para o sucesso. 

A mudança do destino do seu empreendimento envolve que você mantenha um olho na BraCorp, mas todo o resto do seu corpo, em especial o cérebro e a fé, cuidando do lado de dentro da catraca.

Abraços,

Fernando Teixeira

P.S. fácil de falar e não tão fácil de fazer. Só que ninguém disse que era fácil né?

Fernando Teixeira