ônibus
parábola substantivo feminino
narrativa alegórica que transmite uma mensagem indireta, por meio de comparação ou analogia.
Desde os tempos bíblicos esta tem sido uma das melhores maneiras de passar conhecimento. É comum que a gente precise deste tipo de didática para enxergar uma situação que vivemos sob outra ótica.
Uma das empresas da qual sou conselheiro fica numa região de Brasília na qual é difícil e caro estacionar o carro. Ao mesmo tempo é muito conveniente ir de ônibus, por isso eu tenho mantido uma rotina de pegar este tipo de transporte.
Imagine por um momento que estamos estudando o negócio de ônibus urbanos, para investir nele.
Talvez faça um bom tempo que você não pega um ônibus, basta ter um carro que é comum que a gente não use este serviço. Deixa eu relatar o que eu observei como Cliente do serviço.
Do estilo da condução:
A primeira coisa que me chamou a atenção é que os motoristas praticam uma condução agressiva. Basicamente eles aceleram e reduzem bruscamente, fazendo com que ficar em pé seja uma atividade física e de equilíbrio.
Este estilo de condução torna especialmente difícil para que os Clientes mais fracos, mais velhos, acima do peso ou com baixa aptidão física, se sintam à vontade usando o serviço.
Mesmo que sem querer, é um serviço que trata pior os Clientes menos aptos.
Da dependência da equipe:
A maioria dos motoristas e cobradores claramente não gosta do que está fazendo, demonstra muito pouca empatia com o Cliente e fornece um atendimento repetitivo e pouco inspirado.
Os donos das empresas de ônibus submetem os seus funcionários a longas jornadas de trabalho, em ambiente quente, com barulho e submetidos à regras de avaliação que enfatizam a quantidade sobre a qualidade.
A remuneração é baixa e por isso não permite a contratação e desenvolvimento de pessoas com alto nível de sensibilidade para com as necessidades dos Clientes.
O resumo da ópera é que a qualidade do serviço depende quase que inteiramente dos motoristas e cobradores, que são mal treinados.
Existem alguns poucos motoristas que dirigem calmamente, proporcionando uma experiência do usuário muito boa e que vale o que custa. Raros, muito raros ainda, mas eles são o futuro.
Da lucratividade:
A lucratividade do sistema depende de alguns fatores. O primeiro é que é necessária uma alta rotatividade de Clientes para manter o fluxo de caixa. Basicamente eles são coletores de passagens.
A maioria dos Clientes tem um cartão que permite usar o serviço mensalmente. O valor parece ser caro para quem usa e muito baixo para os donos do serviço.
Era mais fácil ter lucro antigamente, apareceu muita concorrência com preços mais baixos, tipo vans, Uber e outras inovações. Algumas mais simples, outras mais luxuosas, algumas com menos serviço e outras com mais serviço de bordo.
Do mercado:
Muita gente precisa, existe um grande número de Clientes.
A procura é alta e só cresce. Condições de piora no uso dos carros, tais como custo, engarrafamentos, multas e dificuldade de estacionar trazem uma tendência de aumento da necessidade.
Pouca gente diz que gosta de usar.
Da infraestrutura
A maioria dos Ônibus é simples, antigo e não está bem mantido. A lucratividade e a renda dos usuários não permite melhorar. Os ônibus são usados até ficarem ruins e depois vendidos para lugares menos exigentes.
Alguns são novos, com ar condicionado, mas são a minoria. A infraestrutura é muito grande. Quem olha de fora acha que é um mercado maravilhoso.
Da inovação:
Basicamente não ocorre nenhuma inovação de valor para o Cliente faz décadas.
O uso de tecnologia é incipiente e mal feito. O empresário não tem afinidade com tecnologia.
Dentro dos veículos tem aumentado o marketing, existem vendedores autônomos fornecendo outros serviços a bordo. Os donos não participam de maneira significativa do resultado do que estes autônomos fazem.
Vamos comparar o serviço de Ônibus com o Fitness e suas academias.
Deixa eu relatar o que muitos Clientes do serviço acham.
Do estilo do treinamento:
A primeira coisa que chama a atenção é como os professores prescrevem treinos fortes. Basicamente eles prometem resultados rápidos e pouco realistas, fazendo com que ficar ativo por longo tempo seja uma atividade para quem tem bom físico e aguenta porrada.
Este estilo de treinamento torna especialmente difícil que os Clientes mais fracos, mais velhos, acima do peso ou com baixa aptidão física, se sintam à vontade usando o serviço.
Mesmo sem querer é um serviço que trata pior os Clientes menos aptos.
Da dependência da equipe:
Existem alguns poucos professores que prescrevem treinos de intensidade adaptada, proporcionando uma experiência do usuário muito boa e que vale o que custa. Raros, muito raros ainda, mas eles são os vencedores do futuro.
Isso acontece em parte porque não são feitas avaliações da real performance dos Clientes e sim basicamente da sua estética, sob a forma de percentual de gordura. Prescrever sem avaliar continuamente é chutar continuamente.
A maioria dos professores claramente não gosta do que está fazendo, demonstra muito pouca empatia com o Cliente e fornece um atendimento repetitivo e pouco inspirado. Pelo menos nas horas em que está trabalhando para os donos de academias.
Os donos submetem os seus funcionários a longas jornadas de trabalho, em ambiente quente, com som alto e submetidos à regras de avaliação que enfatizam a quantidade sobre a qualidade.
A remuneração é baixa e por isso não fomenta a contratação e desenvolvimento de pessoas com alto nível de sensibilidade para com as necessidades dos Clientes.
O resumo da ópera é que a qualidade do serviço depende quase que inteiramente dos professores, muitos são mal treinados e orientados para a estética ao invés de saúde e sustentabilidade.
Da lucratividade:
A lucratividade do sistema depende de alguns fatores. O primeiro é que é necessária uma alta rotatividade de Clientes para manter o fluxo de caixa. Basicamente as empresas são coletoras de mensalidades.
A maioria dos Clientes tem um plano que permite usar o serviço mensalmente. O valor parece ser caro para quem usa e muito baixo para os donos do serviço.
Era mais fácil ter lucro antigamente, apareceu muita concorrência com preços mais baixos, tipo estúdios, personais, parques e outras inovações low cost. Algumas mais simples, outras mais luxuosas, outras com menos serviço e algumas com mais serviço.
Do mercado:
Muita gente precisa, existe um grande número de Clientes.
A procura é alta e só cresce. Condições de piora na saúde e qualidade de vida trazem uma tendência de aumento da necessidade.
Pouca gente gosta de usar.
Da infraestrutura
A maioria das academias é simples, antiga e não está bem mantida. A lucratividade e a renda dos usuários não permite melhorar. Quando chegam ao fim da linha elas são vendidas para novos entrantes desinformados.
Algumas são novas, com ar condicionado e outros luxos, mas são a minoria. A infraestrutura é muito grande.
Quem olha de fora acha que é um mercado maravilhoso e quer entrar, muitos que estão dentro querem sair.
Da inovação:
Basicamente não ocorre nenhuma inovação de valor para o Cliente faz décadas.
O uso de tecnologia é incipiente e mal feito. O empresário não tem afinidade com tecnologia, ele ainda não consegue ter sequer uma internet decente.
Dentro das academias tem aumentado o marketing, existem professores autônomos fornecendo outros serviços a bordo. Os donos não participam de maneira significativado resultado gerado por estes prestadores.
Basicamente ambos os serviços estão prontos para uma destruição criativa. Isso abrirá oportunidades imensas para empreendedores, com outra cabeça e outro foco.
Se por acaso esta parábola não representa sua realidade não se preocupe, não necessariamente estou falando do Brasil.
A atividade física como medicina será o negócio do Século XXI, trilionário, mas nenhum país está pronto para isso ainda.
Abraços,
Fernando Teixeira
P.S. O pessimista reclama do vento, o otimista espera que ele mude e o realista ajusta as velas.
William Arthur Ward